Achados arqueológicos revelam aldeia ancestral e vestígios de seringal no Pará
Rafael Vilela
Pesquisadores do projeto Amazônia Revelada voltaram de uma expedição arqueológica em territórios da Terra do Meio, no sudoeste do Pará, com descobertas sobre o passado pouco conhecido da região. Utilizando uma tecnologia que lança feixes de raios infravermelhos a partir de um avião para mapear estruturas sob a floresta, eles identificaram cerca de 50 possíveis sítios arqueológicos.
Desses achados, quatro sítios foram selecionados para escavação, sendo três na Reserva Extrativista (RESEX) Riozinho do Anfrísio e um na RESEX Rio Iriri.
Na RESEX Riozinho do Anfrísio, a análise das imagens da tecnologia LiDAR revelou a existência de uma aldeia circular de mais de 200 metros de diâmetro.
Segundo os pesquisadores, a estrutura aponta para uma ocupação com casas, terraços, pátios, praças centrais, estradas e áreas de descarte. Durante as escavações, foram coletados fragmentos de cerâmica, ferramentas de pedra e carvão utilizado em fogueiras. O material permitirá a identificação do período de ocupação por meio de datação por carbono.
Os artefatos de cerâmica encontrados surpreenderam os especialistas, pois não se assemelham a nenhum dos já conhecidos. Todos estão em fase de lavagem, separação e catalogação para análises de tipo de argila e modo de fabricação.
O objetivo, de acordo com o instituto de pesquisa, é comparar os desenhos e técnicas com outros povos já identificados, buscando desvendar modos de vida das populações ancestrais que viveram na região, considerada uma das menos estudadas da Amazônia pela arqueologia.
Já na RESEX Rio Iriri, as escavações trouxeram à tona o que se supõe ter sido uma casa habitada por seringueiros desde o início do século XX, período marcado pela exploração do látex sob um regime análogo ao escravidão durante o ciclo da borracha.
Foram encontrados o piso da casa, buracos de postes, o esteio de uma porta e árvores exóticas, como mangueiras e laranjeiras, além de cafezais e plantas ornamentais. Os indícios revelam aspectos do cotidiano dos primeiros extrativistas da região e uma tentativa de subsistência em condições severas.
A expedição envolveu 40 pessoas, entre estudantes da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), pesquisadores, comunicadores locais e professores, incluindo o indígena Carlos Augusto Tijolo e o coordenador da pesquisa, Vincius Honorato.
As etapas seguintes incluem a produção de mapas, envio de fragmentos de carvão para datação em laboratório estrangeiro e análise detalhada das cerâmicas.
Equipe encontra aldeia circular com mais de 200 metros de diâmetro e artefatos inéditos em escavações em reservas extrativistas de Altamira (PA).
Rafael Vilela
O que é a Terra do Meio?
A Terra do Meio é uma vasta região localizada no sudoeste do Pará, formada por um mosaico de unidades de conservação, reservas extrativistas e terras indígenas.
Com mais de 8 milhões de hectares, o território compreende áreas como as Reservas Extrativistas do Rio Iriri, Riozinho do Anfrísio e Rio Xingu, além da Estação Ecológica da Terra do Meio, o Parque Nacional da Serra do Pardo e as terras indígenas Cachoeira Seca, Xipaya e Kuruaya.
Conectada por uma malha de rios entre o Xingu e o Iriri, a Terra do Meio é marcada pela rica biodiversidade e vive sob constantes ameaças de garimpo ilegal, desmatamento e ocupações irregulares, o que reforça a importância da proteção e do manejo sustentável da região.
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