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‘Adotar é para quem tem o coração aberto’: tios oficializam adoção de sobrinha no Acre


‘Adotar é para quem tem o coração aberto’: tios oficializam adoção de sobrinha no Acre

‘Adotar é para quem tem o coração aberto’

É assim que o casal Mirian Nascimento, de 45 anos, e Dejanir Souza, de 49, descreve a história de Ana Clara Nascimento, de 13 anos, que foi criada desde o primeiro dia de vida por eles.

Ana Clara foi morar com os tios logo após o nascimento. Seus pais biológicos, Maria José Ricardo e Adriano do Nascimento, não podiam cuidar dela, segundo o casal.

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Tudo começou com um telefonema da maternidade para Mirian. Adriano Nascimento, meio-irmão dela, ia ser pai, mas não podia cuidar da bebê. Ele tinha problemas de saúde mental, a mãe da criança já tinha outros filhos sob os cuidados de parentes e também não podia assumir mais um.

Mirian e Dejanir decidiram, então, ajudá-los por compaixão. Eles achavam que seria por pouco tempo, até que os pais biológicos de Ana Clara, se recuperassem. Mas, como a situação não melhorou, o casal assumiu o cuidado da menina.

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Arquivo/foto cedida

Amor à primeira vista

Mirian contou ao g1 que o encontro com Ana Clara foi um dos momentos mais marcantes da sua vida.

“Foi amor à primeira vista. Não tinha como deixar uma criança tão indefesa sair da nossa casa como se fosse qualquer coisa. Eu e meu marido assumimos essa responsabilidade e não nos arrependemos nem por um segundo”, relembra.

Mesmo sendo criada pelos tios, Ana Clara manteve contato com os pais biológicos, mas cresceu chamando eles de tios e os tios de pais.

A decisão, foi possível com os serviços da Defensoria Pública do Acre (DPE-AC), na 4ª edição do projeto "Meu Pai Tem Nome". No estado, mais de 300 pessoas se inscreveram para participar da ação

Dejanir, tio e pai de criação de Ana Clara, contou que eles tentaram registrar a menina nos primeiros meses de vida, contudo, o processo não foi adiante por causa da burocracia e da falta de documentos dos pais biológicos.

Dejanir Souza e Mirian Santos e Ana Clara Nascimento com seus primeiros meses de vida.

Arquivo/foto cedida

Durante a pandemia da Covid-19, Dejanir decidiu resolver a situação de forma definitiva. Ele pegou a doença, teve medo de morrer e se preocupou em deixar Ana Clara sem amparo.

"Quando peguei Covid, pensei muito nisso. E se acontecesse o pior? Ela não teria direito à herança, não teria nada garantido e ficaria desamparada. Foi ali que entendi que precisávamos correr atrás disso de verdade”, afirma.

Desafios

O casal lembra que enfrentou dificuldades em várias fases da vida de Ana Clara. Sem o registro formal, não conseguiam provar que eram os pais e isso atrapalhava em consultas médicas, inscrições e matrículas na escola.

Pouco antes de conseguirem a guarda oficial, o casal passou por uma situação difícil. Eles tentaram matricular Ana Clara na natação, mas o pedido foi negado.

“A moça disse que não tinha como porque ela não era minha filha no papel. Saí tão chateada”, disse Mirian.

Depois que o nome deles foi incluído oficialmente como pais de Ana Clara, Dejanir foi direto ao local onde antes tinham negado a matrícula. A primeira coisa que fez foi garantir a vaga da filha na aula de natação. ''Foi uma alegria muito grande poder fazer isso sem precisar ouvir um não outra vez'', relatou.

Dejanir Souza e Mirian Nascimento oficializam paternidade de Ana Clara Nascimento no Acre

Arquivo/foto cedida

Dejanir contou ainda que o vínculo com Ana Clara já era forte e não mudou com a regularização. Mesmo assim, ele disse que foi um momento muito emocionante.

“Ah, eu sou manteiga derretida, né? Eu chorei, com certeza. Choro fácil. Pra gente era um sonho e agora é um direito dela. Agora tem nosso nome, nossa história. É algo que sempre deveria ter sido assim”, afirmou.

Para Miriam, adoção não é só papel assinado. Ela acredita que criar uma criança exige dedicação, responsabilidade e amor de verdade. “Adotar não é brincar de casinha. A criança tem que se sentir desejada, amada e acolhida. A Ana Clara sempre foi um sonho pra gente”, destacou.

Sentimento de Ana Clara

Ana Clara de Oliveira Nascimento Souza conseguiu a oficialização dos nomes de seus pais socioafetivos

Agatha Lima DPE/AC

Para Ana Clara, o documento apenas confirma aquilo que ela já sabia desde sempre.

“Eu não me surpreendo porque já sou filha dela desde o dia que nasci. Me sinto acolhida, amada e eles fazem tudo que está ao alcance deles por mim. Amo muito meu pai, minha mãe e minha família”, relatou a adolescente.

Com o nome deles no registro, Mirian e Dejanir passaram a ter todos os direitos e deveres como pais. A família sente gratidão. “Agora está tudo no papel, como manda a lei. É um ciclo que se completa. Um alívio e uma alegria que a gente não sabe nem descrever”, completou Mirian.

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