Presidente da Câmara, Hugo Motta, participa de evento do mercado financeiro em São Paulo
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Um dia após os protestos pelo país contra a anistia e a PEC da Blindagem, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse nesta segunda-feira (22) que "é o momento de tirar da frente todas essas pautas tóxicas".
As manifestações, que aconteceram em todas a capitais, foram uma resposta à aprovação na Câmara da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que blinda parlamentares de processos e da urgência do projeto de lei da anistia.
"Talvez a Câmara dos Deputados tenha tido, na semana passada, a semana mais difícil e mais desafiadora. Mas este presidente que vos fala.. nós decidimos que vamos tirar essas pautas tóxicas porque ninguém aguenta mais essa discussão. O Brasil tem que olhar pra frente, tem que discutir aquilo que realmente importa, que é uma reforma administrativa, questão do imposto de renda, da segurança pública.
Motta deu a declaração em um evento voltado ao mercado financeiro em São Paulo. Ao ser questionado sobre as manifestações de domingo, ele disse que, assim como os atos contra a anistia e as que aconteceram semanas atrás a favor da anistia "demonstram que a nossa democracia segue mais viva do que nunca".
Motta ponderou ainda que, como presidente da Câmara, precisa agir com "cautela" e afirmou que, apesar de o país viver um "momento desafiador", o Parlamento tem conseguido aprovar matérias importantes.
O Parlamento tem conseguido aprovar matérias importantes que acabam não tendo muita visibilidade porque a pauta que vemos o noticiário liderar, é sempre a pauta do conflito, a pauta que anima esses polos e deixa aqueles assuntos bem mais importantes e fazem parte da nossa população num segundo plano.
O presidente da Câmara defendeu que é preciso "olhar pra frente nessa nova perspectiva de inaugurar uma agenda que saia dessa dicotomia que nada serve ao país".
As votações da PEC da Blindagem e da urgência da anistia foram pautadas por Motta para cumprir um acordo firmado com bolsonaristas e o Centrão que, em agosto, fizeram um motim e tomaram as mesas diretoras da Câmara e do Senado em protesto contra a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na época, Motta teve que recorrer à ajuda de Arthur Lira (PP-AL), liderança do Centrão, ex-presidente da Câmara e fiador do seu mandato no comando da Casa, para conseguir fechar o acordo.
O Centrão quer aprovada a PEC da Blindagem para tentar barrar as investigações contra parlamentares, principalmente as relacionadas a emendas. Há mais de 80 deles na mira de apurações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF). Os bolsonaristas, por sua vez, querem anistiar Bolsonaro.
Os grupos, então, resolveram juntar forças e, na semana passada, conseguiram pautar tanto a PEC quanto a urgência para a anistia — o que permite que o tema vá direto à votação no Plenário, sem passar pelas comissões.
Segundo o blog da Andréia Sadi, a repercussão negativa das aprovações, entretanto, tirou qualquer chance de a PEC da Blindagem ser aprovada pelo Senado — pelo menos por ora.
Manifestantes fazem atos contra a PEC da Blindagem e PL da Anistia em diversas cidades
Pauta de votações
Segundo o blog do Valdo Cruz, Motta está sendo aconselhado a deixar de lado esses temas e focar os trabalhos desta semana em pautas positivas de interesse da população.
O Palácio do Planalto avalia que o momento ruim de Hugo Motta pode ser favorável à agenda econômica do governo.
Por isso, Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, vai pedir ao presidente da Câmara para votar ainda nesta semana o projeto que isenta de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, prioridade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste semestre do Legislativo.