Estudante de medicina veterinária viraliza nas redes sociais ao mostrar rotina com animais no interior de SP

Junior Guerreiro conseguiu mais de 1 milhão de visualizações em vídeo com o cavalo Cigano

A pandemia de 2020 mudou a vida de muita gente, inclusive a do estudante de Medicina Veterinária, Junior Guerreiro, de 23 anos. Natural de Álvares Machado (SP), na época ele começou a viralizar nas redes sociais ao mostrar a rotina simples no campo, cercado de animais.

Durante a pandemia, um vídeo com a vaca Princesa viralizou e fez com que milhares de pessoas passassem a acompanhar o jovem, que atualmente soma mais de 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais.

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Em entrevista ao g1, Junior relatou que, por mais que tenha um alto número de seguidores, ele não se considera um influenciador.

"É complicado, porque eu nunca quis ser um influenciador. Eu sempre quis ser médico veterinário. Quando eu estou na rua, no mercado, quando eu vou fazer algum trabalho, estou em algum estágio, não gosto que as pessoas me reconheçam, porque quando você tem sua vida exposta na internet, toda pessoa deve ter o preconceito de quem era o Junior", explicou o estudante.

O jovem ainda complementou que essa questão existe desde que os vídeos começaram a fazer sucesso, onde sempre que ele era encontrado em algum lugar, não sabia reagir.

Raízes

Criado na zona rural, Junior cresceu cercado por diversos animais, como bois, cavalos, gansos, cães e gatos. A proximidade despertou cedo a paixão pelos animais e influenciou diretamente na escolha da profissão.

"Eu sempre quis medicina veterinária, e acho que a vivência com os animais teve um peso muito importante", completou.

A trajetória acadêmica de Junior só foi possível graças a uma bolsa integral do ProUni. Filho de pequenos produtores rurais, ele sabia que não teria condições financeiras de pagar uma faculdade particular, nem de se manter em outra cidade para cursar uma federal.

"Envolve muita coisa: condição financeira para se manter em outra cidade, psicológico, ficar distante da família. Acho que citei só 1% das coisas que envolvem", resumiu Junior.

O estudante relembra que acompanhava os editais do ProUni desde o ensino fundamental, mas, ano após ano, não encontrava bolsas para Medicina Veterinária: "Até o 3º ano, o ensino médio não abria bolsa para medicina veterinária. Será que vou me formar e não vou conseguir me graduar?".

A oportunidade só veio em 2020, quando conquistou a vaga integral. Mas, a conquista, no entanto, não encerrou os desafios. Sem recursos para realizar estágios fora da região, Junior quase desistiu de algumas oportunidades.

"Minha mãe foi a maior apoiadora. E eu pensei várias vezes em desistir daqui, dos estágios que eu ia fazer fora, mas ela falava: 'Mãe, dá um jeito. Vou conseguir o dinheiro da batata. Você vai conseguir se manter lá'", relatou.

Atualmente, o jovem está no 10° semestre do curso e divide sua rotina entre estágios obrigatórios em diferentes cidades, como Maringá, Campinas e Uberlândia, sempre em busca de novas experiências na área de animais silvestres.

Viralização

Apesar da quantidade de seguidores, Junior nunca foi tão próximo da internet. Ele só foi ter interesse nas redes sociais entre 2018 e 2020, no começo da pandemia. O primeiro vídeo viral surgiu por acaso, quando decidiu filmar a vaca Princesa, recém-nascida e frágil, que precisava de ajuda para mamar.

Sem edição ou trilha sonora, a postagem rapidamente alcançou números inesperados. "Postei de manhã, e foi subindo de 5 mil visualização para 15 mil, para 59 mil, para 130 mil, para 500 mil. E acredito que menos de 5 horas tinha batido quase 700 mil visualizações. Isso foi um susto para mim".

A partir daí, os comentários pedindo para que mostrasse outros animais e mais da rotina no sítio incentivaram a produção de novos conteúdos.

Mesmo com o crescimento repentino, o estudante sempre manteve uma postura crítica sobre o ambiente digital. Ele já ficou durante semanas longe das redes e limita seu tempo de uso a duas horas por dia.

Já com o público, a relação vai além do entretenimento. Ele recebe mensagens de pessoas que, inspiradas em seus vídeos, ingressaram em faculdades de Medicina Veterinária.

"Já recebi relatos de algumas pessoas que tinham sonho de entrar na faculdade e achavam que estavam mais velhas para isso. Eu não vou saber quem são essas pessoas, mas me falaram que tinham conseguido ingressar na faculdade", finalizou.

Cigano, o companheiro de vida

Entre todos os animais que fazem parte da vida de Junior, o cavalo Cigano ocupa um espaço especial. Presente na família desde 2016, ele foi um presente de um tio e rapidamente se tornou mais que um companheiro, ele virou símbolo de conexão e confiança.

"Ele tem uma personalidade muito única. Se eu chegar no pasto para tentar pegar ele, ele não vai deixar eu chegar perto. Porque se um dia eu estou agitado, ele não deixa eu chegar perto dele. Mas se é um dia que eu estou tranquilo, ele deixa. Tem aquela conexão, eu monto nele sem cabresto, galopo com ele sem cabresto, não tem rédea nenhuma, só eu e o cavalo", contou feliz.

O vínculo é tão forte que, mesmo sem ter crescido junto ao estudante, já que Cigano chegou adulto ao sítio, a relação se construiu com base no cuidado e na convivência diária. A ideia inicial era que o cavalo fosse usado para reprodução com a égua Patifa, mas acabou permanecendo como companheiro inseparável.

Com isso, para o estudante, Cigano representa mais do que apenas um animal de estimação, ele é um reflexo de sua própria jornada.

Assim como a vida no campo e os outros animais que o cercam, o cavalo se tornou parte essencial das histórias que ele compartilha nas redes e da sua formação como futuro médico veterinário.

Futuro

Apesar da repercussão nacional com seus vídeos, Junior não se vê como representante de Álvares Machado, cidade onde nasceu e viveu boa parte da vida.

Quando o assunto é sobre o futuro, o estudante de Medicina Veterinária é direto: quer continuar estudando. No 10° semestre, Junior ainda não se sente pronto para abrir um consultório ou assumir atendimentos sozinho.

Entretanto, a paixão por animais silvestres e exóticos tem guiado a trajetória acadêmica. Entre as experiências recentes, ele acompanhou a anestesia de um antílope africano em Campinas, vivência que reforçou a vocação para a anestesiologia e o apoio cirúrgico.

"A gente fez a anestesia de um antílope africano, que é o waterbuck. E é um animal nativo da África e tem aqui no Brasil. A gente fez o atendimento e foi uma experiência sensacional. Estou com o pezinho na anestesia, mas também gosto muito da parte de anatomia, da parte de cirurgia e de entender a fisiologia do animal. Eu tenho sede de aprender", contou.

Por fim, apesar de ter oportunidade de estudo em outros lugares, a vontade de Junior é continuar em sua terra natal e continuar apreendendo.

"Eu pretendo ficar na minha casinha Álvares Machado. Por exemplo, se for para estudar, não vejo nenhum problema ir para Campinas ou para outra cidade, ficar um tempo e voltar. Porque eu quero aprender, não quero ficar limitado. Eu quero sempre continuar estudando", finalizou.