G1

'Golfinhos' da Amazônia: conheça o boto cor-de-rosa e o tucuxi


Apesar de terem muitos hábitos em comum e compartilharem territórios, boto cor-de-rosa e o tucuxi pertencem a famílias diferentes. Um é exímio caçador e o outro é amigável e solitário. Os botos tucuxi e o cor-de-rosa são conhecidos na Amazônia pela inteligência e por manterem certo nível de interação com os seres humanos. Ao compartilharem hábitos e características, muitos podem pensar que são animais da mesma família, mas você sabia que eles pertencem a grupos diferentes?

O g1 conversou com a bióloga Fábia Luna, que coordena o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para entender quais são as característica que diferenciam os dois mamíferos aquáticos. Ela explica que:

O boto-cor-de-rosa [também chamado cor-de-rosa], faz parte da família Iniidae, formada por golfinhos exclusivamente de rios sul-americanos.

Já o tucuxi (Sotalia fluviatilis) é membro da família Delphinidae, que inclui golfinhos marinhos e o boto-cinza (Sotalia guianensis).

Tucuxi adulto no Parque Nacional da Amazônia, no Peru

Michael Nolan/Robert Harding Premium/robertharding/AFP/Arquivo

Mas como bons golfinhos, os animais também compartilham semelhanças. Por exemplo:

território, já que vivem nos rios da Amazônia, principalmente na região Norte do Brasil,

utilizam a ecolocalização para se orientar, ou seja, emitem sons para perceber obstáculos ao redor, localizar presas e navegar nos rios turvos da região.

Além disso, se alimentam de peixes e outros animais aquáticos.

Parecidos... mas nem tanto

Segundo Fábio Luna, entre as características que distinguem os botos estão tanto a aparência física: cor, tamanho do focinho e até o nado. Além disso, o comportamento dos dois são distintos, já que esses animais evoluíram de forma diferente.

Aparência

Boto-cor-de-rosa: tende a ser mais robusto, com rosto ou focinho mais alongado e pode apresentar uma coloração mais rosada, principalmente machos adultos.

Tucuxi: é menor, com corpo mais hidrodinâmico e coloração cinza, semelhante aos golfinhos marinhos.

Comportamento

Boto-cor-de-rosa: costuma a ser solitário ou membro de pequenos grupos;

Tucuxi: é mais social, podendo ser encontrado em grupos maiores, além de ser comparativamente mais rápido e ágil em relação ao boto-vermelho.

Evolução

Boto-cor-de-rosa: pertence a um grupo de animais evolutivamente mais antigos, com características mais primitivas.

Tucuxi: é mais recente evolutivamente e diretamente relacionado aos golfinhos marinhos que adentraram nos rios há milhares de anos.

“Primos distantes”

Boto-cor-de-rosa fotografado no Rio Negro, no Amazonas.

Marcio Lisa

Enquanto os botos tucuxi e cor-de-rosa são abundantes nos rios amazônicos no Brasil, há outras espécies semelhantes em regiões próximas, como explica a bióloga.

Quando nos referimos aos botos-vermelhos estamos abordando as três espécies do gênero:

Inia geoffrensis – o boto-vermelho-amazônico, mais conhecido, ocupa grande parte da bacia amazônica (AC, AM, AP, PA e RR);

Inia boliviensis – o boto-da-Bolívia, ocorre em rios da Bolívia e marginalmente no Brasil (RO, MT e AM); e

Inia araguaiaensis – o boto-do-Araguaia, vive na bacia dos rios Araguaia e Tocantins (GO, MA, MT, PA e TO)”.

Este último foi reconhecido como espécie em 2014, contudo ainda há muitas discussões entre os estudiosos e pesquisadores do grupo quanto ao tema, explica a bióloga.

Mesmo com uma população relevativamente grande, a caça ilegal, a poluição dos rios, além das ruídos provocados pelas embarcações representam ameaças à saúde e à existência das espécies.

Botos na cultura popular

Um boto-cor-de-rosa espera para ser alimentado por moradores ribeirinhos na região do Rio Negro em Manaus, no Amazonas, em foto tirada no sábado (23).

Yasuyoshi Chiba/AFP

Figuras importantes no imaginário popular, o tucuxi é visto pelos ribeirinhos como um animal arredio, que costuma fugir do contato humano, enquanto o vermelho é brincalhão e até mesmo agressivo com as pessoas. No entanto, diante da ameaça do vermelho, os tucuxis se unem para proteger a vítima.

A lenda do boto é um dos mitos mais conhecidos da região amazônica e faz parte do folclore brasileiro. Segundo a tradição, o boto-cor-de-rosa se transforma em um homem elegante e, vestido de branco e usando um chapéu (para esconder o furo no topo da cabeça, marca de sua forma animal), ele encanta as mulheres, dança com elas e as seduz.

Diz a lenda que, depois do amanhecer, ele retorna às águas do rio, voltando à forma de boto. Muitas vezes, essa história era usada para explicar gestações inesperadas, dizendo que o pai do bebê era "o boto".

VEJA TAMBÉM:

Pescadores filmam 'briga' entre boto e peixe elétrico em rio de Rondônia

Baixe o nosso aplicativo

Tenha nossa rádio na palma de sua mão hoje mesmo.