G1

Governo abre sindicância para apurar suposta negligência em morte de bebê; corpo é liberado após 9 dias


A bebê Joana Garcia Campos

Arquivo pessoal

Após uma longa jornada de dor e nove dias de burocracia, os pais da bebê Joana Garcia Campos conseguiram, nesta quarta-feira (6), a liberação do corpo da filha do Instituto Médico-Legal (IML) de Cabo Frio. O enterro acontecerá no sábado (9), no Rio de Janeiro.

A bebê indígena Macuxi de 1 ano e 11 meses morreu na madrugada do último dia 28 após ser transferida da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pediátrica de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, para o Hospital Pediátrico Lagos (HP Lagos). A menina completaria 2 anos nesta quinta-feira (7).

A família acusa negligência no atendimento inicial, e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil do RJ.

Após o g1 divulgar o caso, nesta quinta (7), a Fundação Saúde informou que “abriu uma sindicância para apurar detalhadamente os atendimentos prestados à paciente” na UPA de São Pedro.

Ainda segundo a instituição, “todas as providências estão sendo tomadas para garantir uma apuração transparente e responsável.”

Após saber da sindicância, o pai da menina desabafou: “Eles tomaram algo mais precioso para a gente”, disse o motorista de táxi Ricart de Oliveira Campos, de 29 anos.

“É um alento essa sindicância. Qualquer movimento que façam para esclarecer [o que aconteceu] é importante e necessário. A negligência tem que mudar. Não dá para ficar em silêncio. Não dá para outras crianças caírem nas mãos desses profissionais", acrescentou.

“Hoje seria o aniversário da Jojô e é o aniversário da Cecília [irmã gêmea]. Daqui a dois dias vamos ter que enterrar a Jojô. Imagina o que estamos sofrendo?”, falou o pai.

Férias na Região dos Lagos  

Joana estava de férias com os pais, a irmã gêmea e os avós em Unamar, distrito de Cabo Frio, na Região dos Lagos.

Segundo a mãe, Christinny Garcia, as duas irmãs apresentaram sintomas de virose e, no dia 24 de julho, foram levadas à UPA pediátrica de São Pedro da Aldeia, onde Joana foi atendida, medicada e liberada com diagnóstico de virose.

Três dias depois, o quadro da bebê piorou. Ela foi levada novamente à UPA, onde passou por novos exames. A situação se agravou, e ela foi transferida para o Hospital Pediátrico Lagos, também em São Pedro da Aldeia. Na unidade, Joana sofreu uma parada cardiorrespiratória, vindo a morrer em seguida.

A mãe acredita que houve negligência no primeiro atendimento. O atestado de óbito do HP Lagos indica choque cardiogênico/séptico e sepse pulmonar.

A família, então, tentou encaminhar o corpo ao IML para nova análise, mas enfrentou dificuldades. A autorização só foi obtida com o apoio da Defensoria Pública do Estado, que conseguiu uma decisão judicial.

A família é originária de uma comunidade indígena de Roraima, onde a cremação é o ritual tradicional de despedida.

No entanto, por conta da demora na liberação do corpo e a indefinição da causa da morte, Joana será enterrada neste sábado (9) — um dia após o que seria seu aniversário. A despedida acontecerá no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte.

O que dizem os citados

Em nota, a UPA de São Pedro da Aldeia informou que Joana deu entrada na unidade no dia 24 de julho com sintomas gripais, foi atendida e liberada com orientação de retorno em caso de agravamento. Três dias depois, voltou com piora respiratória, foi diagnosticada com bronquiolite e transferida para o CTI com suporte respiratório.

O Hospital Pediátrico Lagos afirmou que a bebê chegou à unidade em parada cardiorrespiratória, com quadro de sepse pulmonar e choque séptico. Houve tentativa de reanimação, mas ela não resistiu.

Segundo o hospital, o óbito foi declarado no ato, e a família foi orientada a registrar ocorrência para remoção do corpo ao IML. A unidade declarou que não houve conduta irregular e que não vê necessidade de investigação interna.

A Polícia Civil informou que o exame de necropsia realizado no IML de Cabo Frio foi inconclusivo. Por isso, foi solicitado um exame complementar ao Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto, no Rio, que será realizado ainda esta semana.

A corporação reforçou que a investigação está em andamento e segue os trâmites necessários para apuração dos fatos.

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