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Homem procurado por assaltar casa dos pais da namorada de Neymar é preso e solto horas depois


Invasão ocorreu em novembro de 2023. Assaltante foi preso no final do mês passado, mas liberado logo em seguida porque o mandado de prisão expedido pela Justiça não aparecia no sistema. Ladrão à solta

Um dos acusados de assaltar a casa dos pais da namorada de Neymar saiu pela porta da delegacia mesmo com prisão decretada.

Em novembro de 2023, quando três homens armados invadiram a casa de Edson e Telma Ribeiro, em um condomínio fechado em Cotia, na Grande São Paulo. Eles são os pais da influenciadora e empresária Bruna Biancardi, namorada de Neymar.

Ela não estava no local na hora do assalto. Naquela noite, o condomínio estava sem energia elétrica, por causa de um temporal. Os ladrões usaram cadarços para imobilizar os pais de Bruna e fugiram levando bolsas de grife, relógios e joias.

A polícia não demorou para esclarecer o crime. A câmera de segurança da portaria do condomínio, que funcionava por gerador, registrou os assaltantes chegando de carro. Um deles era vizinho dos pais de Biancardi. Eduardo Vasconcelos tinha 19 anos na época.

A imagem também mostra outros dois suspeitos dentro do carro: Pedro Henrique dos Santos Vasconcelos, então com 18 anos, e um homem identificado apenas pelo apelido de "Europa".

Eduardo confessou sua participação no crime e continua preso até hoje, à espera do julgamento. Europa nunca foi identificado e Pedro está foragido. De acordo com uma oficial de justiça, em maio de 2024, quando foi entregar uma intimação na casa de Pedro, a mãe dele disse que o filho tinha morrido, sem que apresentasse provas disso. Mas, neste ano, foi comprovado que ele está vivo e só não foi preso ainda por causa de uma falha do sistema de justiça criminal.

No final do mês passado, policiais militares levaram Pedro para uma delegacia. Mas, depois de algumas horas, ele saiu tranquilamente pela porta da frente porque o mandado de prisão que a Justiça expediu contra Pedro, pelo assalto na casa dos pais de Bruna Biancardi, não aparecia no sistema.

"Todos esses mandados são colocados no sistema e só são retirados do sistema quando são cumpridos ou quando essa decisão é revogada ou anulada", afirma Pierpaolo Bottini, advogado e professor de direito penal da USP.

Entenda o caso

Para entender como isso aconteceu, é preciso voltar ao último dia 19 de abril, na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo. Naquela noite, os PMs que estavam em patrulhamento decidiram parar um carro suspeito.

O motorista fugiu e começou uma perseguição, que só terminou depois que o carro foi fechado por outro. De acordo com a polícia, o motorista disse que fugiu porque estava sendo ameaçado pelos dois passageiros. Ele foi liberado e os dois homens que estavam no banco de trás acabaram presos.

Na delegacia, um deles apresentou um RG falso, com o nome de Leonardo dos Santos Vasconcelos. Só que as digitais dele revelaram sua verdadeira identidade. Era Pedro Henrique dos Santos Vasconcelos — o homem procurado há quase um ano e meio pelo assalto na casa dos pais da namorada de Neymar.

Segundo os PMs, ao ser detido, Pedro tentou quebrar o celular que usava. Com ele, os policiais também encontraram uma touca ninja. A delegada de plantão autuou Pedro Henrique pelo uso de documento falso e o liberou, por ser um crime de menor potencial ofensivo.

Um dos acusados de assaltar a casa dos pais da namorada de Neymar saiu pela porta da delegacia mesmo com prisão decretada.

Reprodução/TV Globo

O que dizem a defesa, o TJ-SP e a SSP

O advogado de defesa de Eduardo, que está preso desde 2023 por causa do assalto, disse em nota que "tal falha processual coloca em xeque não só o processo em si, mas afeta toda a credibilidade do sistema de justiça do nosso país."

Também em nota, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) afirma que o mandado de prisão contra Pedro "foi expedido durante a fase de inquérito sob sigilo" e que "por isso, ele não aparece em consulta pública." Por telefone, a assessoria do tribunal informou que uma autoridade policial conseguiria consultar o mandado no sistema.

Já a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou que, no dia em que Pedro foi preso, "foram realizadas as consultas em todos os sistemas e não foi localizada nenhuma ordem judicial de prisão."

Quem seria o responsável?

O mandado de prisão temporária expedido contra Pedro pelo assalto na casa dos pais de Bruna Biancardi, que deixou de ser cumprido no dia em que ele foi levado para a delegacia, tem validade até 2033.

Mas quem fica responsável por incluir essa informação?

"Em regra, a própria autoridade que defere esse ato, ou seja, que determina essa prisão, já tem a possibilidade de acessar o sistema e fazer constar nesse sistema. Ou a própria autoridade, ou um assessor mandatado para isso, para que essa ordem conste no sistema", acrescenta.

Enquanto se discute de quem foi a falha, Pedro segue foragido.

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