Documentário Itacoatiaras, que conecta Amazonas e Niterói, estreia em festival na Suécia.
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O cineasta amazonense Sérgio Andrade, conhecido por filmes como A Floresta de Jonathas e Antes o Tempo Não Acabava, e a artista carioca Patrícia Goùveia assinam o documentário Itacoatiaras, que terá estreia nacional no Festival do Rio, em outubro, e estreia internacional no Festival Panorámica – Festival de Cinema Latino-Americano de Estocolmo, na Suécia. A exibição acontecerá no dia 28 de setembro, no encerramento do evento, seguida de debate mediado por Patrícia.
Com 73 minutos de duração, o longa conecta dois territórios homônimos: o bairro de Itacoatiara, em Niterói (RJ), e o município de Itacoatiara, no Amazonas. A obra aborda ancestralidades indígenas apagadas pela colonização, especulação imobiliária e fragilidades ambientais, estabelecendo um diálogo entre passado, presente e futuro.
Segundo Patrícia, o projeto nasceu de encontros e da pesquisa artística em diferentes territórios. “Conheci Sérgio em 2017, durante a residência artística La Viverde, no Amazonas. Foi um encontro fulminante, e logo nos tornamos muito amigos. Ele passou meses no Rio e conheceu Itacoatiara, em Niterói, que é um santuário na minha vida”, contou a diretora.
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O documentário começou como um projeto de média-metragem e evoluiu para longa devido à complexidade do material. As primeiras filmagens ocorreram em 2021, em meio à pandemia, e enfrentaram desafios logísticos e financeiros. “Ganhar um edital para média-metragem e transformá-lo em longa foi uma construção coletiva. Todo mundo deu de si e mais um pouco”, disse Patrícia.
Histórias e territórios
A obra reúne depoimentos de lideranças indígenas, ambientalistas, pesquisadores e crianças, além da escuta sensorial de elementos naturais, como pedras, rios e florestas, que se tornam protagonistas do filme. Entre os entrevistados estão Socorro Mura, liderança da aldeia Mura no Amazonas; Alba Simon, ambientalista; e Rafael Freitas, jornalista e pesquisador da história da Baía de Guanabara.
As pedras históricas de Itacoatiara, localizadas no Rio Urubu e na Ponta do Jauary, ganham destaque especialmente durante a seca, quando suas inscrições ficam visíveis. Esses sítios arqueológicos, pouco conhecidos e muitas vezes negligenciados, revelam marcas deixadas por povos indígenas ancestrais e conectam passado e presente, evidenciando a importância da preservação ambiental e cultural da região.
Patrícia ressalta que o filme não busca comprovar teses, mas levantar hipóteses e reflexões sobre memória, identidade e preservação ambiental. “Queremos provocar uma reflexão coletiva sobre os modelos de progresso que adotamos e o legado que deixaremos para as próximas gerações”, afirma.
Lançamento internacional e repercussão
Documentário amazonense estreia no Festival do Rio e na Suécia
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Além do Festival do Rio, Itacoatiaras será exibido na Suécia, onde Patrícia representará a equipe. “Estamos em euforia. A Suécia é muito engajada com emergências climáticas, e o filme dialoga diretamente com essas pautas. É um momento de muita expectativa para ver a reação do público, que será formado por suecos e latino-americanos”, disse.
A diretora espera que o filme também seja exibido em Itacoatiara, no Amazonas, permitindo que os moradores conheçam sua própria história. Ela destaca a importância de valorizar os sítios arqueológicos da região, muitas vezes negligenciados, e de repensar símbolos como a bandeira do município, que atualmente destaca uma pedra do colonizador português em vez das inscrições indígenas locais.
Após a estreia internacional, a equipe aguarda confirmações de outros festivais e planeja inscrever o filme em circuitos de cinema ambiental em 2026.
“Foi um processo transformador para todos nós. Esperamos que o público brasileiro e estrangeiro se sinta tocado, reflita sobre memória, ancestralidade e meio ambiente, e se orgulhe da resistência dos povos originários”, conclui Patrícia.
Documentário Itacoatiaras, que conecta Amazonas e Niterói, estreia em festival na Suécia
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