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Jornalista morta em Gaza deixou carta para o filho: ‘Você é meu amor, meu coração, minha alma’

Gaza: a guerra mais letal para jornalistas

“Você é meu amor, meu coração, minha alma.” A frase faz parte da carta deixada pela jornalista Mariam Abu Dagga, de 33 anos, morta em um bombardeio em Gaza, ao filho. O relato foi revelado em entrevista ao podcast O Assunto por Artur Romeu, diretor da Repórteres Sem Fronteiras para a América Latina.

A trajetória da repórter entra para as estatísticas da guerra mais matou jornalistas na história. De acordo com a ONU, 247 profissionais foram mortos desde o início do conflito em 2023. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas contabiliza 197 vítimas. São números que superam a soma de mortes de jornalistas nas duas guerras mundiais, na Guerra do Vietnã, no Camboja, na ex-Iugoslávia e no Afeganistão.

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Romeu destacou que o cenário é inédito: em menos de dois anos de confronto, já se matou mais repórteres do que em dez anos de guerra na Síria. Segundo ele, não se trata de casos isolados, mas de uma tendência que inclui ataques deliberados contra jornalistas identificados, destruição de redações e restrições impostas à entrada de correspondentes estrangeiros em Gaza.

Essa escalada da violência atinge diretamente o direito da sociedade à informação. "Os jornalistas servem como um vetor da garantia do direito ao acesso a uma informação plural, veraz, confiável, independente sobre os fatos", explica Romeu.

Sem jornalistas em campo, a cobertura do conflito fica limitada às versões oficiais e às estratégias de propaganda de guerra.

“Nesse momento na faixa de Gaza só há jornalistas independentes nenhum grande veículo tem um repórter próprio no território palestino desde o início da guerra.”

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A carta póstuma de Mariam Abu Dagga simboliza a dimensão humana dessa tragédia. Ao mesmo tempo em que registrava a devastação em Gaza, a jornalista deixou para o filho uma mensagem que traduzia a consciência do risco que corria ao exercer a profissão. Mais do que uma despedida, o bilhete reforça mais uma denúncia do conflito: não há condições mínimas para que jornalistas desempenhem seu trabalho e saiam vivos.

Ouça a entrevista completa no podcast O Assunto

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