Mais de três anos após chegada, girafas trazidas da África seguem sem destino definido no Brasil; veja imagens recentes
Os espécimes sobreviventes do grupo de girafas trazido da África para o Rio em 2022 seguem sem destino definido. Três anos e meio se passaram e os animais continuam num resort à espera de uma definição. O Ibama prepara um relatório técnico que vai apontar caminhos para o destino das girafas.
Três animais morreram quando passavam por um período de quarentena em Mangaratiba, depois da longa viagem de avião, o que fez autoridades policiais e ambientais investigarem a situação das girafas.
Elas foram trazidas do continente africano pelo BioParque. Depois de um longo voo, dezoito girafas desembarcaram no Galeão e foram levadas para um resort em Mangaratiba. A operação levantou suspeitas. Fiscais do Ibama e policiais federais denunciaram irregularidades na importação dos animais. O caso foi judicializado e o BioParque perdeu a posse das girafas.
Das dezoito que chegaram ao Brasil, quatro já morreram. Três quando tentavam fugir do recinto criado para elas em Mangaratiba, dois meses depois de chegarem ao país. Uma outra girafa não resistiu a uma doença muscular.
Restam 14 girafas. Elas continuam no resort em Mangaratiba aguardando um novo destino que será definido pelo Ibama. Nesse momento, uma equipe técnica está produzindo um relatório que deverá apontar as melhores opções de destinação dos animais.
A repatriação das girafas para a África seria uma possibilidade. Em maio, o Ministério do Meio Ambiente de Angola enviou uma carta ao Núcleo de Operações do Ministério da Justiça e Segurança Pública da Polícia Federal do Brasil manifestando interesse em acolher os animais.
No documento, os angolanos afirmam que os biomas do país permitiriam a “fácil adaptação das girafas que serão reintroduzidas na área de conservação que tem um monitoramento permanente composto por vários postos de fiscalização, salas de operações, com um corpo de fiscais treinados e preparados para dar respostas eficazes na luta contra o comércio ilegal e a caça”.
A carta diz ainda que “está em curso a elaboração da Estratégia Nacional de Conservação da Girafa, para serem reintroduzidas nos parques nacionais e regionais do país”.
O Ibama resolveu checar as informações das autoridades angolanas com uma organização internacional que é referência na conservação de girafas. A resposta dada pela Giraffe Conservation foi que as girafas agora estão grandes demais para serem transportadas de volta para a África em segurança. “Infelizmente, a melhor maneira de garantir o bem-estar delas é permanecer sob cuidados humanos no Brasil. Elas são altas demais para voar de avião e uma longa viagem de barco também não é uma opção viável", disse a organização.
A mensagem da Giraffe Conservation diz ainda que as girafas pertencem a uma das espécies mais numerosas do sul do continente e, por isso, não há valor de conservação em devolvê-las à África.
Sem a garantias sobre a opção de levar as girafas de volta para a África, a equipe técnica do Ibama procura destinos confiáveis no Brasil que atendam a vários requisitos importantes.
Segundo Leandro Aranha, analista ambiental do Ibama, o escopo da análise do órgão sobre eventuais destinos para os animais deu preferência a lugares que não tem interesse comercial na exibição deles.
Os técnicos do Ibama estiveram em Mangaratiba no início de julho para verificar a situação das girafas no resort onde elas estão sendo mantidas. O RJ2 obteve imagens recentes delas.
Os seis machos foram separados das fêmeas em viveiros individuais. Por já serem adultos, eles manifestam comportamento agressivo no período de acasalamento. As oito fêmeas permanecem em um recinto coletivo.
Todos os animais foram avaliados na capacidade de suportar deslocamentos nesta fase da vida. Das catorze girafas analisadas, quatro se mostraram extremamente vulneráveis, com riscos à saúde ou até mesmo risco de óbito, se forem preparadas para uma viagem.
“Hoje, esses quatro animais que estão menos ranqueados seriam os escolhidos eventualmente pra não serem deslocados. Esse número pode aumentar ou pode diminuir. Isso vai depender do trabalho que vai ser feito daqui pra frente, uma vez que a gente emita essa nota técnica e tenha uma decisão sobre isso”, afirmou Aranha.
O relatório final do Ibama deverá ficar pronto até o final de agosto. A conclusão dos técnicos será encaminhada à direção do instituto, que tomará a decisão final sobre o destino dos animais.
“A gente quer agora que esses animais tenham o melhor futuro possível. Eles já tão no cativeiro há três anos e a gente precisa dar uma destinação adequada. Então, o trabalho agora é buscar lugares onde esses animais possam ter uma vida digna, uma vida saudável, nos próximos anos, dentro do que é possível oferecer a eles”, concluiu o analista.
O BioParque do Rio disse que a guarda legal das girafas foi retirada da empresa há um ano, por decisão do Ibama, e que espera uma definição sobre o destino dos animais. Disse ainda que, nesse período, uma equipe técnica do BioParque, altamente capacitada, segue com cuidados e atenção integral à saúde e ao bem-estar das 14 girafas.
Girafas que viriam para o Bioparque no Rio de Janeiro.
TV Globo/Reprodução