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Maritaca, tamanduá-bandeira, tucano-toco e outros: saiba quais são as espécies mais encontradas em Sorocaba


Maritaca é um dos animais mais comuns em Sorocaba (SP)

Redes sociais/Michelle Amaro

Você já deve ter visto alguns pássaros verdes, parecidos com papagaios, cruzando o céu. Ou, quem sabe, se deparado com um gambá mal-humorado perdido dentro de casa ou preso em algum cantinho. Conhecidos como maritaca e saruê, esses são apenas dois exemplos das espécies que compõem a fauna de Sorocaba (SP).

Na semana em que se comemora os 371 anos da cidade, o g1 conversou com o biólogo Hélio Pereira Junior e a médica veterinária Paula Prata, que explicaram as características e curiosidades sobre algumas das espécies mais comuns encontradas no município.

"Entre os animais mais comuns encontrados na região estão a onça-parda, o tamanduá-bandeira, o cachorro-do-mato, o gambá (ou saruê), além de aves como o quero-quero, o tucano-toco e a maritaca", pontua Hélio.

Biólogo Hélio Pereira Junior e médica veterinária Paula Prata falam sobre animais comuns em Sorocaba (SP)

Arquivo Pessoal

Maritaca

A maritaca, também conhecida como periquitão-maracanã, é facilmente avistada em parques, praças, quintais e áreas arborizadas da cidade, segundo o biólogo. Elas vivem em bandos e são extremamente barulhentas. Sua capacidade de imitar algumas palavras faz com que sejam alvo do tráfico de aves, de acordo com Paula.

"Elas são conhecidas pelo canto alto e estridente, principalmente ao amanhecer e ao entardecer. De hábitos diurnos, a maritaca se alimenta de frutas, sementes, flores e brotos, e frequentemente visita pomares e árvores frutíferas nos centros urbanos. É uma espécie muito sociável, tanto entre os indivíduos do bando quanto com outras aves", explica.

"Usam o bico para se defender, apreender e triturar alimentos, e também para destruir o que encontrarem pela frente, inclusive a fiação de casas, quando resolvem fazer ninhos nos forros, por exemplo. São conhecidas por construírem ninhos com materiais bem questionáveis. Amam frutas e, na natureza, podem ajudar na dispersão de sementes", complementa Paula.

Saruê

Saruê encontrado na Vila Áurea

Corpo de Bombeiros

O saruê pode ser encontrado em áreas verdes, quintais, telhados de regiões urbanas e parques como o Jardim Botânico e o Parque da Biquinha, segundo Hélio. De hábitos noturnos e solitários, esses pequenos animais são inofensivos e desempenham um papel importante no ecossistema urbano.

"Apesar da aparência assustadora e fama ruim, eles são inofensivos e importantes para o ecossistema urbano. Alimentam-se de insetos, frutas e pequenos vertebrados, ajudando no controle de pragas e na dispersão de sementes. Quando ameaçados, podem exalar um odor forte como forma de defesa, mas raramente atacam”, explica Hélio.

“Eles não são agressivos e, normalmente, quando acuados, a defesa que eles têm é mostrar os dentes, abrir os braços e soltar um líquido com cheiro bem forte, além de simular que estão mortos. E, mesmo se forem pegos, eles dificilmente mordem", acrescenta Paula.

Tucano-toco

Tucano-toco é um dos animais mais comuns em Sorocaba (SP)

Paula Nochelli Prata

O tucano-toco pode ser observado em áreas preservadas de Sorocaba, como o Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros” e o Parque Natural Chico Mendes, de acordo com o biólogo. É a maior espécie de tucano, reconhecida pelo grande bico alaranjado, leve e funcional.

“O tucano se alimenta de frutas, insetos e ovos de outras aves, contribuindo para a dispersão de sementes. Seu voo é curto e pesado, alternando batidas rápidas de asas com pequenos planados. Costuma fazer ninhos em cavidades de árvores, aproveitando ocos deixados por outros animais", diz.

“Apesar do bico imponente, ele é leve e serve também para regular a temperatura corporal. A espécie sofre com o tráfico e a perda do habitat, mas não está ameaçada de extinção. Sua importância ecológica como jardineiro das matas é enorme", acrescenta Paula.

Onça-parda

Onça-parda (Puma concolor)

Brendan Murtha / iNaturalist

Já a onça-parda, também conhecida como suçuarana ou leão-baio, pode ser encontrada em áreas de mata preservada nos arredores de Sorocaba, especialmente em parques naturais e reservas da região.

“Elas têm hábitos solitários e comportamento discreto, mais ativa durante o amanhecer e entardecer. Alimenta-se de animais de médio porte, como capivaras, veados e tatus, sendo essencial para o equilíbrio ecológico como predadora de topo. Tem incrível habilidade para saltar grandes distâncias e escalar, facilitando sua locomoção em terrenos variados", conta.

“São animais silenciosos, ágeis, excelentes escaladores e nadadores. Apesar de adaptáveis, dependendo da região são considerados vulneráveis devido à perda de habitat, atropelamentos e conflitos com humanos, especialmente quando atacam criações rurais por falta de alimento", complementa Paula.

Cachorro-do-mato

Cachorro-do-mato é um dos animais comuns que habitam Sorocaba (SP)

Foto; Mata Ciliar de Jundiaí (SP)

De acordo com o especialista, o cachorro-do-mato é encontrado em áreas de vegetação nativa e fragmentos de mata nos arredores da cidade. Ainda segundo Hélio, a espécie tem hábitos crepusculares e noturnos, é solitário ou vive em pares e evita contato humano.

“Ele se comunica por vocalizações, marcas de cheiro e expressões corporais, além de ajudar no controle de pragas e dispersão de sementes. Apesar da semelhança com cães domésticos, é um animal selvagem", diz.

“São fascinantes, latem e uivam como cães domésticos. Sua alimentação variada inclui frutas, insetos e pequenos animais. Embora haja perda de habitat e risco de atropelamentos, o status de conservação ainda não é preocupante", pontua Paula.

Tamanduá-bandeira

Tamanduá-bandeira é uma das espécies mais comuns em Sorocaba (SP)

Paula Nochelli Prata

O tamanduá-bandeira pode ser encontrado em áreas de preservação ambiental, como o Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”. O animal se destaca pela longa cauda peluda e pelo focinho alongado, usado para se alimentar principalmente de formigas e cupins, podendo consumir até 30 mil insetos por dia, de acordo com Hélio.

"Ele vive solitário, tem visão limitada, mas um olfato muito apurado que usa para encontrar seu alimento. Tem hábitos diurnos, embora possa ser ativo à noite em regiões mais quentes. Em Sorocaba, é protegido por ações de conservação e educação ambiental", diz.

"Por não ter dentes, a língua longa é sua maior característica, auxiliando a capturar insetos. Por ser vulnerável à extinção devido à perda de habitat e atropelamentos, é importante proteger essa espécie, que tem uma reprodução mais lenta, com poucos filhotes por vez", acrescenta a veterinária.

Quero-quero

O quero-quero é a ave limícola mais famosa no Brasil

Luiz Moschini/iNaturalist

De acordo com o biólogo, o quero-quero é facilmente avistado em campos abertos, parques, escolas e até em áreas urbanizadas de Sorocaba, como o Parque Natural da Água Vermelha e o Jardim Botânico. Conhecido pelo seu canto característico, ele é territorialista e protege agressivamente seus ninhos, segundo o especialista.

"Eles vivem em pares ou pequenos grupos e costuma nidificar no chão, onde faz ninhos simples em áreas gramadas. Durante o período reprodutivo, é comum vê-lo espantando possíveis predadores com gritos altos e voos rasantes. Alimenta-se de insetos, minhocas e pequenos invertebrados, ajudando no controle de pragas", diz.

"Essas aves são bastante barulhentas e usam esporões nas asas para se defender. Defendem bravamente seus ninhos, avisando com um alto e estridente chamado qualquer um que se aproxime demais. Atualmente, não apresentam risco de extinção e são importantes para a educação ambiental local", complementa Paula.

Gansos e patos

Além dos patos, gansos também habitam o lago da Prefeitura de Sorocaba (SP)

Fernanda Cordeiro/g1

Não dá para falar sobre os animais comuns de Sorocaba sem citar os famosos patos e gansos, presentes em praticamente todos os rios e lagos dos parques do município, especialmente na área da prefeitura. De acordo com órgão, as aves são domésticas e vivem livremente no Parque do Paço Municipal, onde transitam por todo o espaço.

“Eles são alimentados diariamente com ração apropriada para aves. Os animais se abrigam na vegetação existente em todo o parque, bem como na ilha do lago e nas marquises do prédio. Eles procriam naturalmente e, nesses locais que servem de abrigo, constroem seus ninhos. Não há informação de quanto tempo esses animais habitam o espaço”, diz.

De acordo com a veterinária Paula, popularmente conhecidos como pato-mudo, esses animais são aves aquáticas que vivem em bando. Ainda conforme a veterinária, eles têm uma alimentação de base onívora, consumindo uma ampla variedade de alimentos, como sementes, frutas, insetos, pequenos crustáceos, outros invertebrados aquáticos e até mesmo minhocas.

“O nome pato-mudo está relacionado ao fato de serem mais silenciosos do que outras espécies de patos. Eles não grasnam; em vez disso, emitem sons muito baixos, semelhantes a bufadas. Outra curiosidade é que os machos podem ser facilmente distinguidos das fêmeas por apresentarem carúnculas proeminentes e avermelhadas na face”, explica.

"Eles ainda ajudam no controle de pragas, como mosquitos e caramujos, contribuem para a regeneração da vegetação ao espalharem sementes e ainda integram a cadeia alimentar, servindo de alimento para predadores naturais e ajudando a manter o equilíbrio ecológico”, complementa.

Já os gansos, segundo Paula, não são uma espécie selvagem encontrada na natureza, mas sim uma raça originada da domesticação do ganso-cisne, nativo da Ásia. Ainda de acordo com a veterinária, acredita-se que esses animais tenham se desenvolvido na China e, posteriormente, sido levados para outros países.

"Eles também são ótimos aliados ambientais, auxiliando no controle de pragas, plantas aquáticas e gramíneas invasoras, além de contribuírem para a reciclagem de restos de hortaliças, cascas e grãos, fazendo com que o esterco produzido a partir de suas fezes sirva como adubo natural para plantas nativas. Em contrapartida, por não serem nativos, podem competir por alimento e espaço com aves silvestres", diz.

Patos da Prefeitura de Sorocaba (SP) são diariamente alimentados

Fernanda Cordeiro/g1

Problemas da urbanização

Apesar desses animais serem comuns na cidade, o biólogo reforça que a urbanização tem impactado negativamente essas espécies, reduzindo suas áreas de ocorrência livre e forçando um contato mais frequente com os humanos, o que acaba aumentando os riscos e conflitos.

"Cada vez mais, esses animais têm buscado alimento junto a áreas habitadas, invadindo a cidade devido à falta de espaço e de recursos naturais. Além disso, há espécies ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira e a araucária. Os animais também estão sujeitos a atropelamentos, envenenamentos e à disseminação de doenças zoonóticas, como o poxvírus em felinos, elevando ainda mais o risco de extinção", diz.

Ao avistar um animal silvestre, a população deve acionar imediatamente os órgãos competentes, como a Polícia Ambiental, a Zoonoses ou a Secretaria de Meio Ambiente.

Vegetação e preservação

Maritaca, tucano-toco e outros: saiba quais são as espécies mais encontradas em Sorocaba

Além da fauna, a vegetação de Sorocaba é marcada pela presença de fragmentos de Mata Atlântica. Entre as espécies que se destacam estão o jacarandá-mimoso, o pequi, o jatobá e a araucária

“A cidade está localizada em uma região que possui fragmentos de Mata Atlântica e Cerrado, abrigando exemplares típicos desses dois biomas convivendo em harmonia. Contudo, com a expansão da cidade, os espaços onde esses grupos vivem vêm sendo reduzidos”, explica Hélio.

O professor de biologia da Universidade de Sorocaba (Uniso), Thiago Simon Marques, acrescenta que a cidade abriga 632 espécies vegetais, distribuídas em 348 gêneros e 100 famílias.

Sorocaba (SP) é coberto por vegetações da Mata Atlântica e Cerrado

Fernanda Cordeiro/g1

“Essas espécies foram identificadas em fragmentos florestais, áreas de preservação e até em praças e áreas urbanas. O levantamento da fauna também revela um número expressivo de espécies animais presentes no município”, diz.

Atualmente, diversas áreas de preservação ambiental, como parques importantes para a conservação e educação ambiental, são monitoradas e protegidas pela Secretaria do Meio Ambiente, Proteção e Bem-estar Animal.

“As principais áreas estão ligadas às várzeas dos córregos e do rio Sorocaba, além de parques como o Parque da Biodiversidade e o Parque Chico Mendes, e zonas de chácaras. Os parques da cidade também atuam como espaços de educação ambiental e de proteção ao meio ambiente. Isso ocorre tanto de forma ativa, por meio de atividades e ações específicas, quanto de forma passiva, por meio de placas, cartazes e outros materiais de conscientização para visitantes", explica Hélio.

Um dos exemplos de preservação é a presença de espécies vegetais nativas e protegidas, como o jequitibá de 149 anos que se destaca na CEI Dona Zizi de Almeida, na Vila Espírito Santo. A árvore é considerada uma das “cidadãs sorocabanas”, título simbólico dado a exemplares que não podem ser cortados e devem ser preservados, conforme as leis municipais nº 8.837/2009 e nº 9.123/2010.

Biólogo da Universidade de Sorocaba (SP), Thiago Marques, fala sobre a vegetação de Sorocaba (SP)

Arquivo Pessoal

Parque dos Espanhóis é um dos pontos de preservação em Sorocaba (SP)

Fabrício Rocha/g1

* Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida

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