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Moradores de Gaza usam macarrão e farinha estragada para combater a fome


Com falta de suprimentos causado pelo bloqueio da entrada de ajuda humanitária no território, cozinhas comunitárias de Gaza vêm fechando. Segundo a ONU, cerca de 10 mil casos de desnutrição aguda entre crianças foram identificados só este ano. Moradores de Gaza usam macarrão e farinha estragada para combater a fome

Moradores da Faixa de Gaza estão apelando para alimentos estragados para não morrer de fome, mostrou a agência de notícias Reuters nesta quinta-feira (8).

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Em vídeo, uma palestina que vive na cidade de Gaza, mãe de seis filhos, mostrou como está conseguindo fazer pão para dar como comida a todos: molhando massa de macarrão até conseguir fazer uma pasta.

"Pegamos macarrão e o deixamos de molho, imaginando se daria certo ou não, e graças a Deus, funcionou. Assamos. É melhor do que morrermos de fome. Vamos morrer de qualquer jeito, não tem comida nem bebida", lamenta Amna Rizk.

Farinha usada por palestinos para fazer pão sendo peneirada para retirar ácaros

REUTERS

A farinha de trigo, essencial para a receita, também não é mais encontrada. Mohammed Abou Ayesh, um pai de nove filhos, contou que ele e muitos outros vêm peneirando sacos de farinha antigos:

"A farinha está cheia de ácaros e areia. Nós a peneiramos três, quatro vezes, em vez de uma, para podermos assá-la. Não queremos comer dela, mas somos forçados. Estamos indefesos".

Samaher Al-Ghoula, que vem fazendo o mesmo para alimentar a família de 12 membros, fez um apelo:

"Tenham misericórdia de nós, enviem-nos comida, enviem-nos remédios. Por que vocês estão nos punindo, o que está acontecendo? Qual é a culpa dos nossos filhos? Vejam a nossa situação".

Israel tem enfrentado crescente pressão internacional para suspender o bloqueio da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza imposto no dia 2 de março, mas nega que Gaza esteja enfrentando uma crise de fome.

Os militares israelenses dizem que ainda há o suficiente para sustentar a população do enclave e acusam os militantes do Hamas de explorar a ajuda, o que o Hamas nega, e diz que deve manter todos os suprimentos fora do país para evitar que os combatentes os recebam.

Cenas de desespero em meio à fome

Menina chora enquanto aguarda que panela seja preenchida com alimento em Gaza

Eyad BABA / AFP

Com a Faixa de Gaza devastada pela guerra, milhares de pessoas, inclusive crianças, vão todos os dias às cozinhas solidárias montadas pelo território na esperança de conseguir comida para suas famílias.

No entanto, com quase dois meses de bloqueio da entrada de ajuda humanitária no território, muitas delas vêm fechando e nas que seguem funcionando as filas para conseguir alguma comida são cada vez maiores.

Há uma semana, no campo de refugiados de Nuseirat, no centro do enclave, o cenário era de caos. Homens, mulheres e crianças, com panelas, vasilhas e até latas nas mãos, tentavam levar qualquer alimento.

Yusef al-Najar, de 10 anos, um dos que estavam entre a multidão, falou à agência de notícias AFP:

"As pessoas se empurram com medo de perder a vez. Crianças pequenas caem. Às vezes, no meio do caos, a panela escorrega das minhas mãos e a comida se espalha pelo chão. Volto para casa de mãos vazias... e essa dor é pior que a fome", conta ele, que perdeu o pai na guerra e agora é o responsável pela mãe e a irmã.

Multidão se aglomera para buscar comida em cozinha comunitária em Gaza

Eyad BABA / AFP

Os suprimentos estão cada vez mais escassos. No dia 25 de abril, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, um dos principais fornecedores de ajuda alimentar em Gaza, disse que enviou suas "últimas reservas de alimentos" para as cozinhas solidárias.

Diante da escassez de farinha, do fechamento das padarias e do aumento dos preços dos alimentos básicos, esses lugares se tornaram a única fonte de alimento para dezenas de milhares de moradores de Gaza.

Aida Abu Rayala, de 42 anos, que teve a casa destruída por um bombardeio e agora vive com a família em uma barraca improvisada, conta que já voltou para casa de mãos vazias após mais de três horas de espera para conseguir comida.

"Voltei para casa de mãos vazias. Meus filhos choraram (...) e naquele momento, desejei morrer para não vê-los passar fome novamente. Não tem farinha, não tem pão, não tenho como alimentar meus filhos. Passamos horas em pé, sob o sol escaldante e, às vezes, no frio congelante", lamenta.

Homem serve massa em lata para menino palestino em busca de comida

Eyad BABA / AFP

De acordo com um relatório do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, cerca de 10 mil casos de desnutrição aguda entre crianças foram identificados em Gaza - incluindo 1.600 casos de desnutrição aguda grave - desde o início de 2025.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo governo do grupo terrorista Hamas, afirma que pelo menos 60 mil crianças estão agora apresentando sintomas de desnutrição, além de "mulheres grávidas e lactantes que têm dificuldades para amamentar, pois elas mesmas estão desnutridas ou têm uma ingestão muito insuficiente de calorias".

O escritório de mídia do governo do Hamas disse, no dia 25, que a fome não é mais uma ameaça iminente em Gaza e está se tornando uma realidade, e que 52 pessoas já morreram devido à fome e à desnutrição, sendo 50 delas crianças.

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