G1

'Nunca ficava sem dar notícias', diz irmã de peão desaparecido há dois meses no interior do Acre


A última vez que Mizael deu notícias foi em junho

Arquivo pessoal

Viviane da Silva Freitas, irmã de Mizael da Silva Freitas, 29 anos, o peão que está desaparecido após ir para um seringal trabalhar em Feijó, no interior do Acre, contou ao g1, que o último contato que tiveram com ele, foi no final do mês de junho. A partir de julho, ele não entrou mais em contato.

Ela relatou que há dois anos Mizael trabalhava no Seringal do Nazaré, onde ficava por volta de dois meses no local e retornava para a cidade e de tempos em tempos ligava para os pais para dar notícias, o que não aconteceu dessa vez.

📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp

"Ele vinha, aí ia de novo, era todo o tempo assim. Sempre passava de duas, três semanas e ele ligava, ele nunca ficava sem dar notícia. Ligava para o pai, para a mãe, aí, o mês de julho todo, ele não ligou. E aí nós começamos a ficar preocupados, porque ele não ficava sem ligar. Sempre dava um jeito de ligar, ele não tinha celular, mas sempre entrava em contato", afirmou ela.

Nessa quinta-feira (18), a Polícia Civil prendeu quatro suspeitos de envolvimento no desaparecimento de Mizael. Para os investigadores, ele foi executado.

Viviane narra que após sentirem que havia algo errado, entraram em contato com o dono do local onde o irmão trabalhava.

"Pedi pro meu pai entrar em contato com o dono de lá, pra perguntar se ele estava bem, quando é que ele vinha porque ele não tinha ligado. Aí ele falou que o telefone lá onde ele se comunicava estava esculhambado, por isso que ele não estava entrando em contato", relembra.

A irmã pontua que o mês de julho inteiro se passou e por volta do dia 10 de agosto o dono do seringal onde Mizael trabalhava, foi até a casa da família perguntar se ele havia chegado.

"Ele perguntou se ele tinha chegado e disse que num domingo anterior, ele tinha vindo para a beira do Rio dizendo que vinha pra cidade. Aí o pai falou que ele não estava. O patrão dele então disse que ia mandar alguém lá procurar ele pra ver se ele tinha voltado pra colônia", conta ela.

LEIA MAIS

Homem achado em coma em PS após 3 anos desaparecido no AC recebe visita do pai e do tio

Nº de desaparecidos volta a crescer no AC e supera média de um caso por dia em 2024

O dono da colônia onde o Mizael trabalhava mandou a mulher de um dos trabalhadores irem até lá para procurá-lo, mas também não conseguiram notícias.

A irmã de Mizael recorda que após o retorno dos dois o homem assegurou que nada havia acontecido com seu irmão no local de trabalho.

"Ele deu a palavra dele que lá não tinha acontecido nada e se tivesse acontecido foi fora de lá, não foi lá na colônia dele. Ele ainda disse que talvez ele tinha ido com os caboclos, porque nesse domingo viram ele conversando com os caboclos na beira do rio. Ele disse: 'quem sabe ele não subiu com os caboclos?'. Aí começamos a divulgar a foto dele pelos jornais, televisão, rádio, whatsapp", revive ela.

Segundo Viviane, nesse primeiro momento a família estava desesperada por informações mas ninguém dizia nada à família. Eles ainda receberam informações falsas. Só depois de todo essa situação, a família decidiu ir à polícia.

"Algumas pessoas deram a informação que viram ele com os índios, mas essa informação era falsa. E aí a gente foi na polícia, depois de a gente agir e divulgar e não ter informação, meu pai registrou um boletim e a polícia começou a investigar", pontuou ela.

Delegado fala sobre sumiço de peão que saiu para trabalhar em seringal no AC

Trabalhador dedicado

A irmã mencionou que no local onde o irmão trabalhava ele fazia diversos serviços, sempre relacionados ao cuidado com o campo.

Viviane se emocionou ao falar sobre Mizael. Ela destacou que toda a família está muito abalada com o desaparecimento e sem saber o que pode ter acontecido com ele.

"É muito difícil falar dele, porque ele era uma pessoa muito boa. Ele era evangélico, ele tocava na igreja, pregava, ganhou muitas almas pra Jesus. Só que, em determinado tempo, ele se desviou, começou a beber, começou a usar droga, começou a andar com pessoas que não eram muito boas", lamentou.

Viviane revelou que a família acredita que foram essas mesmas pessoas que tiraram a vida do irmão. A irmã também alegou que Mizael era muito trabalhador e ajudava sempre quem precisava, inclusive a família.

"Ele era uma pessoa muito boa. Ele nunca fez mal pra ninguém, fez só o bem, enquanto ele esteve aqui na terra. Ele fez muita bondade pra todo mundo. Quantas vezes ele deixava de comer pra dar pros outros. Até hoje, do conhecimento que eu tenho sobre o meu irmão, ele nunca fez mal pra ninguém".

Apesar de relatar que a família vivia preocupada com Mizael, Viviane disse não acreditar que ele tenha morrido por conta de dívidas de drogas, já que em outro momento quando o irmão precisou, a família foi informada e quitou os débitos.

"Só Deus que tá nos dando força pra nos suportar. Não é pela morte, é pela forma. Tirar a vida dele nada justifica. Tirar a vida de ninguém. Só Deus que dá a vida e ele tem direito de tirar. Nós estamos muito abalados. É uma dor que nunca vai passar. Tiraram um pedaço de nós. Mas ele vai ser sempre lembrado com muito amor e carinho por todos nós", acrescentou.

VÍDEOS: g1

Baixe o nosso aplicativo

Tenha nossa rádio na palma de sua mão hoje mesmo.