Produto gerado a partir da tecnologia é adicionado à gordura
Fernanda Lima/Inova Unicamp
Um “pó mágico” criado por pesquisadoras da Unicamp, em Campinas (SP), reduz a quantidade de gordura saturada em produtos como recheios de biscoitos, bombons, margarinas e chocolates. A tecnologia já está em uso em parte da indústria de alimentos.
🤔 Por que isso importa? Porque o consumo excessivo de gordura saturada, encontrada em alimentos de origem animal e em óleos como coco e palma, aumenta o “colesterol ruim” (LDL) e o risco de doenças cardiovasculares.
Apesar dos riscos, a gordura saturada ainda predomina na indústria alimentícia por ser sólida em temperatura ambiente, ao contrário das gorduras insaturadas, que são mais saudáveis, mas têm consistência mais mole.
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Como funciona o 'pó mágico'?
Chamado de Microcap, o pó é feito de cristais de gordura microencapsulados. Ao ser adicionado a óleos e gorduras insaturadas, aumenta a firmeza e estabilidade do produto, permitindo reduzir gordura saturada sem alterar textura ou sabor.
“Com a retirada da gordura trans, a indústria tem dificuldade de estruturar as gorduras. Os produtos ficam mais sensíveis ao calor. Não conseguimos produzir, por exemplo, um recheio consistente; ele fica muito mole", explicou Maria Cristina Mascarenhas, uma das criadoras do produto.
O pó acelera e uniformiza a cristalização da gordura. “Você põe na gordura e na parte oleosa que tem na formulação. Mistura com esse ingrediente. Essa mistura vai ficar mais firme, mais consistente”, detalhou a pesquisadora.
Além de Mascarenhas, as pesquisadoras Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves e Izabela Dutra Alvim participaram da criação da tecnologia. O “pó mágico” foi licenciado para uma startup fundada por Mascarenhas em 2015.
Gordura saturada está presente em alimentos de origem animal
Custo ainda é um desafio
Segundo a inventora, o pó tem composição simples, sem aditivos químicos, e não exige altas temperaturas na produção. “Também conseguimos reduzir um pouco o uso de energia da fábrica”, complementou Mascarenhas.
O ingrediente já é usado em recheios de biscoitos, bombons e barrinhas de proteína, e testes internacionais estão em andamento para avaliar o uso em margarinas e chocolates. O custo, porém, ainda é um desafio.
“Em muitos casos, o custo da formulação fica mais alto e as empresas não aprovam. Vários clientes estão tecnicamente aprovados, mas o custo ainda não”, disse.
Atualmente, novos testes exploram aplicações em cosméticos e nutrição animal, mas o foco principal continua sendo ampliar o uso na indústria de alimentos. O produto é comercializado no Brasil em parceria com uma multinacional de nutrição sustentável.
Maria Cristina Mascarenhas, uma das inventoras do 'pó mágico'
Fernanda Lima/Inova Unicamp
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