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Potiguares com deficiência relatam avanços e dificuldades no mercado de trabalho: 'Preconceito ainda é desafio'


Juliane Duarte, 35 anos, viu o preconceito em algumas tentativas de contratação antes de chegar ao atual cargo

Divulgação

A assistente financeira Juliane Duarte, de 35 anos, trabalha há oito anos em uma rede do setor funerário do Rio Grande do Norte. Porém, antes de chegar ao atual emprego, ela conta que viu o preconceito em algumas tentativas de contratação.

“Já passei por outras empresas e sei que o preconceito ainda é um desafio, principalmente na fase de seleção”, relembra.

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Celebrado neste domingo (21), o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência reforça a importância da inclusão social em áreas como trabalho, educação e lazer.

Iniciativas corporativas e sociais são consideradas essenciais para diminuir as barreiras enfrentadas pelos mais de 14 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No Rio Grande do Norte, onde 8,8% da população têm algum tipo de deficiência — índice acima da média nacional de 7,3% — não faltam exemplos de transformação. Um dos mais importantes está na empregabilidade, que segue como um dos grandes desafios para essa parcela da população.

O Censo do IBGE detectou que pessoas com deficiência têm pouco acesso à educação

Conforme levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com base em informações do eSocial, apenas 545.940 mil pessoas com deficiência e reabilitados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) estão inseridos no mercado formal de trabalho.

Para Juliana, citada no início da reportagem, no atual ambiente de trabalho, na Empresa Vila, suas entregas e dedicação são reconhecidas antes da deficiência. Ela considera que a inclusão também se constrói no dia a dia, com respeito, confiança e oportunidades.

"Pequenas atitudes, como auxiliar quando preciso e promover o respeito no ambiente de trabalho, são cruciais para que a inclusão seja uma prática efetiva, e não apenas um discurso", afirma.

Shirley Paiva, 45 anos, conquistou seu primeiro emprego há 16 anos no McDonald’s, com o apoio da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

Shirley Paiva, 45, trabalha há 16 em rede de fast food

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Com uma deficiência adquirida no nascimento, ela reforça a importância de as empresas oferecerem mais oportunidades.

"A gente se sente mais capaz, porque podemos fazer tudo igual a quem não tem deficiência, e às vezes até melhor”', opina.

Acessibilidade

Simei Thander de Assis Silva, 36, colega de trabalho de Juliane, chama atenção para a importância de garantir formas diversas de acessibilidade para os colaboradores com deficiência.

Diante de empecilhos relacionados à falta de vagas exclusivas de estacionamento próximas à entrada do trabalho, o desenvolvedor foi designado para atuar à distância, o que ele prefere, pela melhor qualidade de vida alcançada.

“Por conta do trabalho remoto, consigo me concentrar totalmente nas minhas tarefas, sem me preocupar com problemas decorrentes da minha deficiência, como questões de acessibilidade e dores nas articulações, que poderiam causar desconforto se o trabalho fosse presencial”, compartilha.

Segundo ele, o macro cenário da inclusão ainda está longe do ideal, mas é possível garantir que ela aconteça de forma efetiva.

“Nos últimos 20 anos, a relação de vagas prioritárias, corredores mais largos e elevadores acessíveis tem evoluído, mas ainda estamos longe do ideal. As empresas melhoraram ao longo do tempo, mas o importante é não limitar a pessoa, não deixar de designar uma tarefa por achar que ela não é capaz de executá-la; ao mesmo tempo, é fundamental compreender os limites de cada pessoa com deficiência, para que as tarefas sejam distribuídas de forma adequada e eficiente”, considera.

Representatividade nas artes

Além da acessibilidade e inclusão profissional, a luta por representatividade é uma das mais relevantes na atualidade. Em Natal, o grupo potiguar Movidos Dança, formado por pessoas com deficiência e corpos diversos, utiliza a dança como ferramenta de expressão e inclusão social.

Grupo Movidos Dança, com Daniel Silva ao centro da imagem

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A cada apresentação, o coletivo mostra como a arte é capaz de romper barreiras e ampliar a visibilidade de artistas com deficiência no cenário cultural brasileiro.

“A maioria das pessoas ainda está acostumada a assistir espetáculos com corpos que seguem padrões sociais e estéticos. Romper essas barreiras exige luta constante”, relata Daniel Silva, 42, diretor geral do grupo.

Para ele, estar no palco e ocupar esse espaço de visibilidade significa mostrar que todos os corpos são capazes de produzir arte de qualidade, "distante da visão de fragilidade que muitas vezes nos é atribuída”.

“Enfrentamos a falta de incentivos culturais específicos e, em comparação aos grupos com ‘corpos padronizados’, recebemos bem menos apoio. Outro obstáculo são os altos custos das ferramentas de acessibilidade, que dificultam não apenas a atuação do artista com deficiência, mas também o acesso do público a experiências culturais de forma inclusiva”, denuncia.

Apesar disso, Daniel afirma que não há mais espaço para retrocessos quando se fala em inclusão e equidade de oportunidades e incentiva que quem é PCD se permita enxergar a arte como algo inerente ao ser humano, e não como um privilégio destinado a um grupo seleto.

“Arte e cultura são para todos. Nós, pessoas com deficiência, temos plena capacidade de exercer esse ofício com excelência. Somos muitos e temos o direito de conquistar nosso espaço, seja na arte e na cultura ou em qualquer outro lugar que desejarmos”, finaliza.

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