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Rios escondidos: veja onde estão os 60 cursos d’água identificados na área urbana de Piracicaba


Obra de canalização do Córrego Itapeva entre os anos de 1955 e 1959 durante o governo de Luciano Guidotti

Prefeitura de Piracicaba

Piracicaba (SP) tem 60 cursos d'água na área urbana. Alguns estão abertos e são notados pela população, mas outros caíram no esquecimento após serem canalizados e, em alguns casos, deram lugar a ruas, avenidas e pontos de inundação. É o que aponta o mapa hidrográfico elaborado pelo geógrafo Luiz Campos, um dos fundadores do projeto Rios e Ruas, ao lado do arquiteto e urbanista José Bueno.

O mapa hidrográfico é dividido em cursos d’água (azul), trechos de rios e córregos canalizados (roxo), espelhos d’água (dourado) e pontos de inundação (vermelho). Confira abaixo:

Mapa hidrográfico de trecho de área urbana de Piracicaba em 2018

Luiz Campos/Rios e Ruas

O mapa, que o g1 teve acesso neste ano, serviu de base para parte da exposição Rios Des.Cobertos em 2018, no Sesc de Piracicaba. Na ocasião, houve a instalação interativa de uma maquete 3D para mostrar o processo de urbanização e as transformações dos rios encobertos na cidade.

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Como foi feito o mapa

O geógrafo reforçou que o mapa não abarcou todos os cursos d'água que existem e que ainda podem existir outros que não foram identificados. Para a produção, ele cruzou informações de cinco tipos de fontes:

Análise do Plano Municipal de Saneamento Básico de Piracicaba - Sistema de Drenagem, realizado pelo SEMAE em 2010 – que era o mais atualizado para a época, informou o geógrafo;

Análise de mapas antigos e atuais de Piracicaba;

Levantamento de campo para conferir se o rio mencionado pelos mapas antigos estava canalizado ou aberto, ou se existiam cursos d’água ausentes nos mapas;

Pesquisa em jornais para identificar pontos de inundação na cidade com base em notícias de enchentes, pois onde tem inundação tem um rio que passa, afirmou o geógrafo;

Entrevista com pessoas de Piracicaba que presenciaram o processo de canalização dos rios.

“Pegamos mapas históricos e fomos para campo para perceber o desenho da paisagem. O rio sempre está passando na parte mais baixa do terreno”, informa o geógrafo Luiz Campos.

Atividade de campo do Rios e Ruas em Piracicaba

Rios e Ruas/Divulgação

Rios sem nomes e o esquecimento

Córrego na Rua Ulhoa Cintra ou Córrego das Frutas é um dos cursos d’água batizado pelo projeto durante a análise de campo, afirmou o geógrafo.

Ele nasce perto do Mercadão Municipal de Piracicaba, passa atrás do Sesc e deságua no Rio Piracicaba. Luiz contou que, durante o levantamento de campo, verificaram que esse curso não estava no mapa e não tinha nome, mas estava na memória de alguns piracicabanos, que informaram acessar o córrego nadando a partir do rio Piracicaba nas décadas passadas.

“A gente pesquisa os nomes antigos dos rios e busca recuperá-los. Quando isso não é possível, damos um nome para o rio, porque quando não há nome para o curso d'água, é uma boa estratégia de esquecimento. Se não tem nome, não existe”, informa Luiz.

Córrego das Frutas deságua no rio Piracicaba

Rios e Ruas/Divulgação

Canalização e inundação

Luiz explicou que a canalização de rios envolve diferentes etapas e formas de intervenção ao longo de anos. Inicialmente, pode ocorrer a retificação, que consiste em eliminar curvas naturais do rio para torná-lo mais reto. Isso acelera o fluxo da água e libera áreas laterais para uso urbano, como ocorreu no Rio Tietê em São Paulo (SP), cujas margens foram transformadas em vias para veículos.

Marginal Tietê

Reprodução/TV Globo

Posteriormente, pode-se adotar a canalização aberta, feita por meio de canais escavados, galerias retangulares de concreto ou tubos cilíndricos pré-moldados. O tamanho da estrutura é definido com base na vazão e frequência de chuvas intensas dos últimos anos.

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Obras de canalização do Córrego Itapeva em Piracicaba

Com o avanço da urbanização, muitas vezes o rio passa a ser tamponado: além de retificado e canalizado, é coberto com concreto e sua área superior é ocupada por avenidas ou ciclovias. Nesse modelo, o curso d’água se torna invisível na paisagem, correndo subterrâneo em galerias de concreto. É o que aconteceu com o ribeirão Itapeva, em Piracicaba, que corre embaixo da Avenida Armando de Salles Oliveira, deságua no rio Piracicaba e lembra os piracicabanos que ele está ali durante as épocas de chuva, quando ocorrem inundações na área.

Chuva arrasta carros na avenida Armando Salles em Piracicaba

Juliana Franco/G1

Rios descobertos

Na contramão das canalizações, algumas cidades descobrem os rios cobertos. É o caso de Seul, capital da Coreia do Sul, que tirou a avenida que passava por cima do riacho Cheonggyecheon e transformou o local em um parque. Esse tipo de ação resulta em benefícios, citou o geógrafo, como:

Mais saúde e qualidade de vida para a população;

Melhora da qualidade do ar e da água, que está em contato com o oxigênio;

Diminuição da temperatura local;

Diminuição das inundações;

Promoção de áreas verdes e de lazer nos centros urbanos.

“Com a abertura dos rios, as pessoas estão vendo, elas sabem que ele existe. Se ele estiver fedendo, elas podem reclamar que estão jogando esgoto, que não estão tratando-o bem. Quando ele está em um cano, ele pode estar com o pior aspecto possível, cheio de lixo e que ninguém nem sabe que ele existe”, explica Luiz.

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