Terminal de Los Angeles, principal porta de entrada para produtos asiáticos, vê queda no movimento. O mesmo acontece com porto vizinho de Long Beach, diante do tarifaço do presidente dos EUA. Porto de Los Angeles.
Robyn Beck/AFP
No porto de Los Angeles, na Califórnia, a coreografia frenética dos guindastes que descarregam contêineres da Ásia diminuiu — e o barulho nas docas mais movimentadas dos Estados Unidos também.
"É possível ouvir um alfinete cair, é muito incomum", disse à AFP o diretor do porto, Gene Seroka.
De acordo com esse indicador não oficial, a economia dos EUA está enfrentando uma desaceleração sob o comando do presidente dos EUA, Donald Trump, em meio à sua guerra comercial com a China.
A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do país nesta semana também reforça o cenário. Números apontam que as incertezas causadas pelo republicano colaboraram com o recuo de 0,3% da economia norte-americana no primeiro trimestre, em taxa anualizada. (leia mais abaixo)
Juntamente com o porto vizinho de Long Beach, a área de Los Angeles representa a maior porta de entrada para os EUA de produtos da China e do resto da Ásia.
Isso a tornou uma das primeiras vítimas de uma crise emergente que ameaça atrapalhar a vida de milhões de americanos.
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As tarifas de Trump, bem como as taxas retaliatórias lançadas por outros países, intimidaram os importadores, cujos pedidos regulares de móveis, brinquedos e roupas diminuíram.
Nesta semana de 4 de maio, o porto de Los Angeles receberá até 35% menos carga em comparação com o mesmo período do ano passado, disse Seroka, diretor do terminal.
Já o porto de Long Beach diz que uma queda de 30% nas importações é esperada para todo o mês de maio.
Dezenas de navios cancelaram suas viagens para esses portos.
"Muitos varejistas e fabricantes apertaram o botão de pausa, interrompendo todas as remessas da China", disse Seroka.
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Guerra comercial com a China
O gigante asiático é o mais atingido pelas tarifas de Trump, com taxas de até 145% sobre alguns produtos. As vendas de produtos chineses para os EUA em 2024 ultrapassaram US$ 500 bilhões (quase R$ 3 trilhões), de acordo com Pequim.
E, embora as vendas possam não aumentar este ano, os preços certamente aumentarão.
"De fato, o custo de um produto fabricado na China está agora duas vezes e meia mais caro do que no mês passado", disse Seroka.
No mês passado, Trump anunciou uma série de tarifas separadas contra quase todos os países do mundo. As taxas foram definidas com base no déficit dos EUA com cada um dos parceiros comerciais, em uma fórmula que gerou críticas ao redor do globo e deixou economistas perplexos.
Alguns dias depois, ele suspendeu o tarifaço por 90 dias e deixou uma tarifa geral de 10% contra a maior parte do mundo. Essa sobretaxa, paga pelo importador de um produto, não pelo vendedor, afetará o comércio em todos os EUA.
"Não se trata apenas de um problema da Costa Oeste. Ele afeta todos os portos, estejam eles no leste ou no Golfo" do México — que Trump decretou que deveria ser conhecido como Golfo da América", alertou o diretor do Porto de Long Beach, Mario Cordero.
No início deste ano, Long Beach e Los Angeles viram as empresas americanas correndo para se antecipar às tarifas que Trump prometeu na campanha.
Os volumes de frete dispararam enquanto as empresas corriam para estocar o máximo possível antes da entrada em vigor das novas tarifas. No entanto, à espera de que os impostos comecem a valer, a tendência é que as companhias interrompam as compras para escoar os estoques acumulados.
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Importações antecipadas e queda no PIB
A queda de 0,3% no PIB dos EUA em taxa anualizada neste primeiro trimestre veio após o indicador aumentar 2,4% nos últimos três meses de 2024, de acordo com dados preliminares do Departamento do Comércio do país.
🔎 A taxa anualizada mostra como a economia cresceria em um ano se o ritmo atual for mantido. Essa medida é usada para facilitar a comparação com o crescimento de outros períodos.
Os números contrariam as expectativas dos analistas, que previam uma alta de 0,3% para o período. O resultado foi puxado pelo grande volume de importação por empresas que queriam evitar custos mais altos, diante da política de tarifas anunciada pelo presidente dos EUA.
Também colaborou para o resultado do PIB a confiança do consumidor nos EUA, que está próxima dos níveis mais baixos em cinco anos.
Além disso, o sentimento empresarial despencou. As companhias aéreas, por exemplo, citam incerteza devido às tarifas, enquanto economistas alertam que as taxas aumentarão os custos para empresas e famílias.
Após a divulgação dos resultados, Trump afirmou que a contração da economia americana "não tem nada a ver" com as suas tarifas sobre importações e que os índices vão prosperar quando elas entrarem em vigor.
"Este é o mercado de ações de Biden, não de Trump. Só assumi em 20 de janeiro. As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país prosperará, mas precisamos nos livrar do 'excesso' de Biden", escreveu Trump nas redes sociais.
"Isso levará um tempo, não tem NADA A VER COM TARIFAS, apenas que ele nos deixou com números ruins, mas quando o boom começar, será como nenhum outro. SEJAM PACIENTES!!!", completou.
* Com informações da agência de notícias AFP.