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Trabalhadores de fazenda de café são alfabetizados em 100 dias no interior de MG: ‘Nunca é tarde para começar’, diz aluno


O estudante Olideu Ferreira Porto recebe o diploma de conclusão do projeto de alfabetização em Varjão de Minas

Divulgação\Sistema Divina Providência

Atualmente ler e escrever pode ser algo natural para a maioria das pessoas, mas não é a realidade de 100% da população brasileira. E em Varjão de Minas, no Noroeste de Minas Gerais, um projeto mudou um pouco a realidade de trabalhadores de uma fazenda de café que não sabiam ler e escrever.

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Em 100 dias de aulas, 12 trabalhadores concluíram o curso e agora sabem ler, escrever e realizar operações matemáticas básicas. Entre eles, Olideu Ferreira Porto, de 51 anos, o primeiro a se matricular.

“Agora minha vida melhorou muito, a pessoal, a profissional e a familiar. Você sabendo ler e escrever ajuda demais”, disse.

O curso foi desenvolvido pelo Sistema Divina Providência, em parceria com o Instituto Marina e Flávio Guimarães, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) e Grupo BMG, após a identificação da demanda de alfabetização de trabalhadores da fazenda Guima Café.

Segundo a coordenadora pedagógica do Divina Providência, Marilândia Ferraz, o desafio do projeto era comtemplar a alfabetização dos trabalhadores durante a entressafra. E para garantir o resultado, a pedagoga se inspirou no método de Paulo Freire para montar o plano do curso na prática, com a criação da apostila a partir da realidade dos trabalhadores da fazenda.

“Queriam um projeto que contemplasse a alfabetização dos trabalhadores, que não poderia ser todos os dias. Pensei o período temporal levando em consideração que eles trabalhavam até 17h. Assim, coloquei duas possibilidades, sendo uma com dois dias na semana e outra com três dias de aulas semanais, ambas com atividades das 18h30 às 22h30”, disse Marilândia.

A volta da alegria de viver

Uma pesquisa da Ação Educativa e do Conhecimento Social divulgada em maio apontou que 3 a cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais e que quase 30% dos brasileiros têm dificuldade para ler textos básicos ou fazer contas. E se esse desafio já não fosse o bastante, manter os alunos estimulados e motivados era outro obstáculo que deveria ser superado. No entanto, segundo Marilândia, estímulo, motivação e alegria não faltaram.

“Muitos alunos relataram que o curso devolveu a alegria deles, que apresentou um novo desafio. Alguns relataram que não sabiam o que fazer quando o curso terminasse, porque gostaram muito”.

“O principal desafio de um curso assim é motivá-los para querer aprender, porque pensa você trabalhar oito horas por dia, acordando às 4h e ainda conseguir estudar”, afirmou.

A motivação foi tanta que nem chuva ou falta de energia impediram os alunos a estarem em sala de aula.

“Teve um dia que choveu e a energia acabou na fazenda e os alunos pegaram uma bateria de carro, adaptaram uma lâmpada e colocaram na sala para que pudessem ter a aula”.

Formados e professora do projeto de alfabetização de trabalhadores de fazenda em Varjão de Minas

Divulgação\Sistema Divina Providência

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Alfabetização com jogos, poesia e música

A proposta das aulas era ir além da alfabetização, garantindo autonomia para que os estudantes lidassem com atividades do dia a dia, como entender documentos, acessar informações e melhorar as condições de trabalho.

“Ao longo do curso aplicamos cinco oficinas e cinco atividades avaliativas para entender o desenvolvimento dos alunos. A metodologia usada foi a ativa, com trabalhos em duplas e grupos, com muitos jogos de memória usando o alfabeto e números. Muitos sabiam identificar letras e números, alguns sabiam somar, mas poucos sabiam identificar os algarismos”, explicou Marilândia.

E mais, poesia e música também estiveram presentes nas aulas dos trabalhadores.

“Para as aulas usamos Cora Coralina, Zeca Pagodinho, Vinícius de Moraes, por exemplo, colocando grandes nomes da poesia e da música dentro da realidade deles”.

Próximos passos

Ainda conforme a coordenadora pedagógica, o projeto foi tão bem sucedido que uma nova turma na cidade e um módulo mais avançado para os recém-formados da fazenda.

“A proposta é construir outra turma em Varjão de Minas, mas na área urbana. Também existe a possibilidade de continuidade aos 12 alunos formados com um módulo 2”, finalizou Marilândia.

Coordenadora pedagógica Marilândia Ferraz é abraçada por aluno durante a cerimônia de formatura.

Divulgação\Sistema Divina Providência

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