Cantareira registra nível mais baixo em 10 anos
O principal reservatório que abastece a Grande São Paulo atingiu, hoje, o pior nível em dez anos para setembro. O Sistema Cantareira vem sofrendo com a estiagem e prejudica o fornecimento de água para milhões de pessoas.
A água, que ocupava tudo na represa, está desaparecendo. O chão exposto, meses atrás, era o fundo da represa do Jaguari, em Joanópolis. Ela é um dos cinco reservatórios que compõem o Sistema Cantareira — responsável por fornecer água para 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo.
O Bill depende do turismo e tem medo de ver tudo seco outra vez, como aconteceu dez anos atrás.
"A água foi abaixando, foi abaixando, e tá nesse nível que tá agora. E cada dia que passa, tá abaixando mais ainda", conta Bill Araújo, marinheiro.
A estrutura usada pra pesca ficava na margem da represa, encostada da água. Mas hoje tá suspensa no ar. A água sumiu debaixo. E a represa tá a 50 metros de distância.
O solo rachado de tão seco assusta.
"Fiquei chocada com a represa, porque, nossa, olha só como é que tá. Minhas netas vieram com o caiaque aí e quase que nem anda", diz Gonçala Maria de Lima, aposentada.
Volume do Sistema Cantareira atinge o pior nível em 10 anos
Reprodução/Jornal Nacional
Hoje o Sistema Cantareira tem apenas 29,7% do volume total de água. Esse é o menor nível desde 2015, quando o sistema enfrentou uma crise hídrica e precisou retirar água do chamado volume morto — uma reserva que só pode ser usada em situações de emergência.
Uma resolução de 2017 da Agência Nacional de Águas e do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo determina que o Sistema do Cantareira entre em restrição quando ficar abaixo dos 30% — como agora.
Assim, a quantidade de água retirada vai diminuir a partir do mês que vem. E a pressão no fornecimento para a Região Metropolitana de São Paulo também vai ser menor durante um período mais longo da noite.
A medida que era adotada das 21h às 5h vai começar duas horas mais cedo.
Na Vila Maria Alta, na zona norte da cidade de São Paulo, os moradores já sentem os efeitos: menos água na torneira.
"Se precisar chegar à noite, lavar uma roupa, não vou conseguir, porque é a da rua que vem a água pra máquina de lavar roupa. Então, complica bastante", reclama Sérgio Ricardo Tadeu da Silva, representante comercial.
"Foi um setembro muito muito seco, muito mais seco do que as piores projeções que nós fazíamos até o final de agosto quando tomamos a última medida. E nós não tivemos também o resultado que se esperava em termos de conscientização da população", afirma Thiago Mesquita, diretor-presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp).
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo descarta, por enquanto, o risco de desabastecimento na Grande São Paulo, e acredita que os reservatórios comecem a se recuperar nos próximos meses.
"A partir do dia 1º de outubro, a gente entra no período úmido que vai até o dia 31 de março, e a expectativa é que as chuvas voltem e no decorrer do tempo, com o carregamento dos sistemas, a gente volte à normalidade", diz Samanta Souza, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Sabesp.
O especialista em recursos hídricos explica que o problema das represas secas vai além das chuvas abaixo da média.
"A gente precisa restaurar as áreas de preservação permanente, a gente precisa melhorar o tipo de uso do solo, o manejo do uso do solo justamente pra aumentar a infiltração de água no solo. Pra gente conseguir armazenar essa água, pra gente conseguir ter esse recurso de maneira mais contínua e a gente não sofrer tanto com essas oscilações climáticas, que estamos observando", afirma Alexandre Uezu, pesquisador do Instituto de Pesquisas Ecológicas.