G1

Depoimentos inéditos mostram como PCC ameaçava empresários para lavar dinheiro do crime

Depoimentos inéditos mostram como quadrilha de lavagem de dinheiro obrigava empresários a entregar negócios para o crime

O Fantástico exibiu depoimentos de empresários ameaçados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavar dinheiro do crime. A organização usava motéis, postos de combustível e jogos de azar para movimentar bilhões de reais de forma ilícita.

As declarações das vítimas expõem intimidações, fraudes e violência. Empresários relatam que foram obrigados a vender negócios sob ameaças de morte. Os nomes dos empresários não serão revelados na reportagem para garantir a sua segurança.

Um deles tinha um posto de combustível, estava precisando de dinheiro e recebeu uma proposta de compra. Mas ele não sabia os supostos compradores eram ligadas ao crime e que nunca o dariam o valor prometido.

Ele contou que ao tentar desfazer o contrato, passou a ser intimidado.

“Ele começou a falar: ‘É, tem pai matando o filho por causa de dinheiro. Tem filho matando o pai por causa de dinheiro. Se mata muito fácil por causa de dinheiro’”, relatou.

A quadrilha manteve o posto em seu nome e passou a vender combustível adulterado, deixando-o como responsável legal.

"Elas eram vítimas até duas vezes. Primeiro, porque não recebiam e depois num segundo momento porque passavam a responder inclusive pelos crimes praticados pela organização criminosa", diz o promotor de Justiça Sílvio Loubeh.

Outro dono de posto relatou situação parecida. Ele vendeu o estabelecimento em 2018.

“Você vai vender o posto por bem ou por mal”, teria ouvido de um dos criminosos.

Ele diz que teve sua assinatura falsificada para novos contratos e hoje ainda negocia com bancos para tentar quitar dívidas feitas pela quadrilha.

Durante depoimento, ele reconheceu os responsáveis pelo golpe.

"Em princípio: Alexandre Leal, que foi pessoa que veio comprar o estabelecimento. E eu sei que, posteriormente, ele repassou para essa pessoa que se chamava Wilson, e chamavam ele de Wilsinho", conta.

Wilsinho, segundo o Ministério Público, é Wilson Pereira Júnior, que comprava os postos em sociedade com o empresário Flávio Silvério Siqueira, apontado como o principal beneficiário do esquema.

O advogado de Flávio Silvério Siqueira disse que seu cliente “não tem contato com ninguém do PCC” e que “o PCC mexe com crime e não com motéis ou qualquer outra empresa”.

O advogado de Wilson Pereira Júnior afirmou que ele “não foi formalmente citado no processo” e que “qualquer esclarecimento será prestado às autoridades”.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Alexandre Leal.

Enquanto as investigações continuam, as vítimas tentam reconstruir a vida.

“Perdi meu ganha-pão. E aí, a gente fica desesperado”, disse uma delas.

Outra disse:“Eu sabia que ia dançar financeiramente, que não ia ter mais vida pra nada. Mas pelo menos eu toco minha vida”.

A investigação

A investigação é do Ministério Público e da Receita Federal. Segundo os órgãos, trata-se de um “esquema sofisticado, societário e financeiro” para acobertar crimes.

Os promotores afirmam que a quadrilha controlava centenas de negócios de fachada. Entre eles, 267 postos de combustível e 60 motéis no estado de São Paulo.

Como o PCC usava rede de motéis para lavar dinheiro em SP?

Em quatro anos, as empresas ligadas ao grupo movimentaram cerca de R$ 6 bilhões.

Segundo um dos investigadores, motéis são propícios para lavar dinheiro porque é mais difícil fazer o controle da entrada e saída de clientes, o que facilita a maquiagem das receitas.

O esquema usava fintechs (instituições financeiras digitais) para centralizar o dinheiro ilícito.

A principal delas era a BK Bank, que, de acordo com os investigadores, recebia transferências milionárias dos postos e motéis.

A defesa da BK Bank diz que a instituição é regulada e autorizada pelo Banco Central e nega envolvimento com os investigados.

Ao sair da fintech, o dinheiro era usado para comprar itens de luxo para os criminosos.

Ouça os podcasts do Fantástico

ISSO É FANTÁSTICO

O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.

PRAZER, RENATA

O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida.

BICHOS NA ESCUTA

O podcast 'Bichos Na Escuta' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts.

Baixe o nosso aplicativo

Tenha nossa rádio na palma de sua mão hoje mesmo.